Finisterra - Muxia

O caminho de Finisterra – Muxia, era para mim algo que tinha ficado por fazer a quando de minha peregrinação a Santiago no ano passado, por isso e quando na empresa fomos forçados a uma semana de férias devido á crise, a primeira coisa que me veio ao pensamento foi por pés ao caminho.
A viagem até Santiago foi feita de carro e após 3 horas de viagem o mais difícil foi encontrar um lugar para o deixar, há muitos parques nas imediações da catedral, no entanto tem um custo de 15 euros por dia, por fim lá arranjei um lugar para o carro que ficou junto a um café que só no meu regresso reparei que se chamava “Punto de Encontro”, sem duvida…
No 1º dia logo á saída de Santiago foi necessário tirar a capa da chuva da mochila que se veio a tornar companheira inseparável durante todo o caminho, acabando por chegar ao albergue de Negreira completamente todo ensopado e exausto a exemplo de todos os outros peregrinos que lá se encontravam.
No 2º dia a chuva e o frio continuavam como companhia, encontrei muita gente no caminho, alguns que vinham de longe como era o caso de um espanhol que vinha de Burgos e já caminhava há 19 dias, pelo caminho ia meditando se visitaria primeiro Finisterra ou Muxia, no entanto a decisão não foi difícil de tomar, pois pelo simbolismo que representam as duas localidades teria que ir primeiro a Muxia ao local onde apareceu Nossa Senhora a Santiago quando ele andava um pouco desanimado, e então depois Finisterra que representava o fim da terra para os nossos antepassados quando eles pensavam que a terra era plana.
O 3º dia foi para mim o mais fatigante, também devido ao acumular de cansaço dos dias anteriores, o caminhar á chuva cansa um pouco mais, também era para mim a primeira vez que fazia o caminho de botas que em virtude dos caminhos que percorremos e principalmente com chuva são sem duvida o melhor calçado para caminhar, no entanto as minhas experiencias anteriores feitas de sapatilhas foi muito menos fatigante, mas esse cansaço não me impediu de ter forças para visitar o Santuário de Nossa Senhora da Barca um lugar sempre emblemático e fantástico que recomendo vivamente.
O 4º dia ia me levar de Muxia a Finisterra, a grande dúvida era um rio que se tinha que atravessar a vau e como no dia anterior não vieram peregrinos no sentido contrario, não se sabia se era possível transpô-lo ou não pois tinha chovido muito nos dias anteriores. O caminho de Muxia para Finisterra está marcado nos dois sentidos e por vezes as marcações não estão muito perceptíveis levando-me a perder por algumas vezes, no entanto neste percurso tive um episódio que me marcou:
Ao chegar a um entroncamento estava um cão grande deitado no chão a olhar para mim com um olhar desconfiado (era natural que não me conhece-se pois era a primeira vez que ali passava) passei por ele com alguma precaução mas ele manteve-se quieto, logo a seguir tinha outro entroncamento ao qual eu segui em frente e nesse instante o cão que até então estava quieto veio atrás de mim a ladrar, a minha reacção instantânea foi virar-me para traz para ver o que se passava, o cão parou de ladrar foi-se embora e eu olhei para o entroncamento que tinha passado e vi uma seta amarela a indicar o caminho a esquerda no entroncamento em que tinha seguido em frente, tinha-me enganado, se não fosse o cão a chamar-me á atenção, coincidências ao talvez não…
Quando cheguei ao rio para tirar as botas e transpô-lo a vau, grande desilusão, o rio levava um grande caudal e era muito largo, ainda tirei as botas arregacei as calças e fiz-me ao rio mas ainda no leito do rio a agua já dava pelas coxas pelo que no meio do rio daria acima da cintura e estava gelada, era impossível passar o rio… acabei por encontrar uma senhora agricultora nas imediações que me informou da impossibilidade de passar o rio e que teria de fazer um desvio de 5 km, mais um desilusão, mais de uma hora de caminho, no entanto não havia outra alternaria, pés para que te quero…
Na chegada a Finisterra acabei por perder o ultimo autocarro pelo que tive que pernoitar no albergue e regressar no dia seguinte, serviu para conhecer um pouco esta vila e tirar ainda mais algumas fotos embora o por do sol neste dia só existia por de trás das nuvens no entanto a paisagem permite sempre fotos fantásticas.
A viagem de autocarro demorou 3 horas, e na chegada a Santiago como dever de todos os peregrinos uma oração diante de urna do apóstolo Santiago com o sentido de regresso e até uma próxima vez.
O caminho de Santiago nem sempre está marcado, mas eu encontrei-o, encontra-o tu também...

Antes de publicar a minha visão no caminho de Santiago – Finisterra, quero dar-vos a conhecer o que me marcou pela negativa nesta minha peregrinação.
A foto que esta ao lado representa um marco do caminho de Santiago, em cima a concha que nos indica a direcção do caminho e em baixo os km que faltam para a catedral de Santiago, ou neste caso Finisterra ou Muxia.
Fiquei extremamente chocado pelo numero de marcos em que a placa com a indicação dos km não estava lá, teria sido levada como suvenir por alguma pessoa que não posso chamar de peregrino, será que para algumas pessoas não é suficiente as recordações que ficam para sempre na nossa mente, as belas paisagens, os relatos dos outros peregrinos, a caderneta com os carimbos por onde passamos, e no fim a Compostela certificado da nossa peregrinação? Assim como me chocou a quantidade de lixo que vão deixando pelo caminho, garrafas de água, embalagens de comida de “plástico”, garrafas de whisky, sacos de plástico, recordo-me de uma foto que fui tirar a um cruzeiro muito antigo em que primeiro tive que tirar uma lata de refrigerante que lá se encontrava para não me estragar a fotografia, o mais engraçado é que transportei essa lata não mais que uns 100 metros para um contentor de lixo que ali estava, quem lá a deixou já não tinha forças para a levar, coitado…
Isto fez-me meditar nos nossos antepassados que vinham de terras longínquas para visitar o túmulo do aposto Santiago, nessa altura não haviam marcos a indicar o caminho, nem albergues para pernoitar uma noite com informações como eu vi “Não autorizamos a pernoita a pessoas que aparentem estar alcoolizadas ou sobre o efeito de estupefacientes” , nem calçado xpto, nem pisos bem delineados e muitos até bem arranjados para a passagem dos peregrinos, nem restaurantes ou apenas um café para comer ou beber alguma coisa, nem fatos impermeáveis para a chuva, nem mapas ou até guias de peregrinos que tanta falta nos fazem nos dias de hoje, mas tinham algo muito mais importam e que faz falta a muitas pessoas que fazem estes caminhos, a FÉ.
Que me desculpem os mais sensíveis, mas não consegui passar indiferente a toda esta bandalheira, e se algum de vocês um dia tiver o prazer de fizer este maravilhoso caminho lembrem-se o que não se deve fazer.
Na próxima semana prometo por aqui a minha visão positiva deste caminho, todas a fotos e vídeos.